Por que uma pós-graduação em Etnobiologia?
A ideia de uma pós-graduação em etnobiologia sempre foi acalentada pelo Dr. Darrell Posey, etnobiólogo que trabalhou na região Norte do Brasil desde os anos 1970 e falecido em 2002, que vislumbrava a necessidade de formar recursos humanos capazes de transitar na dicotomia natureza e sociedade, considerando as peculiaridades inerentes a cada um desses elementos. Hoje o cenário brasileiro, permite concretizar esse antigo ideal, em especial na região Nordeste, face: a concentração de recursos humanos especializados em diversos campos da etnobiologia; fazendo deste o primeiro programa de pós-graduação strito sensu interinstitucional do gênero no Brasil e na América Latina. Por ser o primeiro Brasil, o PPGEtno surgiu com o desafio de formar recursos humanos na área e aumentar a produção científica brasileira que já é liderança na América Latina, considerando o número de artigos publicados em revistas indexadas pelo Scopus e Web of Science. No Brasil não há um curso de pós-graduação (Stricto Sensu) que forme recursos humanos especificamente em Etnobiologia, sendo esta a primeira iniciativa a conceber uma formação na área. O que existe são cursos de pós-graduação que oferecem a oportunidade de desenvolver pesquisas na área. A falta de uma formação específica em etnobiologia é uma contradição patente ao fato de sermos um pais detentor de elevada biodiversidade e sociodiversidade.
Como surgiu o PPGEtno?
O Departamento de Biologia da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), tendo a frente o Laboratório de Ecologia e evolução de Sistemas Socioecológicos (LEA), em cooperação com a Universidade Estadual da Paraíba-UEPB e Universidade Regional do Cariri-URCA apresentou a proposta de abertura do curso de Doutorado em Associação, modalidade Associação Parcial em Etnobiologia e Conservação da Natureza no ano de 2011. Trata-se da primeira proposta de doutorado voltada para formar profissionais na interface natureza/cultura. Programas semelhantes, no melhor de nosso conhecimento, são oferecidos na Europa e nos Estados Unidos. A proposta então, representou o primeiro Doutorado com esse perfil na América Latina, cuja demanda por profissionais com formação cresce vertiginosamente, especialmente com olhar voltado para tratar as complexas e delicadas questões que envolvem sociedade, natureza e cultura. Em 2015, face a grande demanda, foi aprovada a proposta de abertura do mestrado com a primeira turma ingressando em 2016.
O cenário atual exige urgentemente a formação de profissionais com sensibilidade para tratar essas questões, por diversos motivos: 1. Reconhecimento que as questões ligadas a conservação da natureza não podem ser resolvidas apenas com o olhar da Ecologia e das Ciências Biológicas; Reconhecimento do papel das diversas culturas e sociedades como parceiras em projetos de conservação e manejo da vida selvagem; a preocupação com os direitos de propriedade cultural associado com conhecimento tradicional e recursos genéticos, uma vez que se identifica que muitos produtos farmacêuticos e/ou industrias são desenvolvidos a partir do conhecimento da sociodiversidade.
No Brasil, nos últimos 20 anos, a preocupação com essas questões fomentou uma nova geração de profissionais com interesse nessa formação. O PPGEtno procurou unir profissionais e instituições que, embora tenham tido a formação clássica em áreas disciplinares, realizam pesquisas com orientação filosófica baseada na ideia de troca de saberes, articulação verdadeira e interdependência. Na proposta do programa, a etnobiologia vai se colocar como uma mediadora entre as diferentes disciplinas e profissionais, de modo a dar unidade a produção científica e a formação dos profissionais.
A nossa proposta contempla então profissionais oriundos das seguintes áreas: Ciências Agrárias, Ciências Biológicas (Zoologia, Botânica, Ecologia, Fitoquímica), Ciências da Saúde (Farmacologia, Microbiologia) e etnobiologia. Embora com formações distintas, a maioria dos docentes desenvolve suas pesquisas dialogando com a etnobiologia (como é o caso dos farmacologistas, que partem do conhecimento tradicional para avançar na descoberta de novos medicamentos), ou mesmo dos ecólogos clássicos que embora não façam pontes diretas, entendem que não se pode falar de conservação da natureza sem levar em consideração o papel do ser humano como um agente de transformação dos espaços naturais.
Mas, porque um uma pós-graduação em Associação? Devido a grande demanda em todo o Brasil, em especial no Nordeste, de profissionais com uma boa formação na área e pelo fato dos docentes com formação e/sensibilidade para tais questões encontrarem-se dispersos em diferentes regiões. Um doutorado em Associação não só permitiu o ensaio para a constituição de uma rede de formação de recursos humanos, como também fortalece as instituições parceiras que ainda não dispõem de material humano em quantidade suficiente para abrir os seus próprios programas em nível de doutorado. A abertura do PPGEtno consolidou a posição da Região Nordeste do Brasil como um centro de referência internacional na formação de recursos humanos e produção científica em etnobiologia e conservação da natureza.